Jovens empresários – DNA sustentável
O perfil do empresário mudou. Diferente do que era valorizado anos atrás, hoje o que motiva jovens empresários em diferentes setores é a integração entre progresso e sustentabilidade.
Há oito anos, o engenheiro de produção Felipe Marçal Cota trocava uma sólida carreira na indústria automotiva para assumir o cargo de CEO da Transcota – tradicional transportadora mineira, que possui sedes nas cidades de Contagem (MG), São Paulo (SP) e Parauapebas (PA).
Desde então, processos enraizados em quase três décadas da empresa foram totalmente reformulados e automatizados a partir de conceitos da logística 4.0 e com foco total na sustentabilidade. Entre os resultados, estão a primeira entrega verde da mineração brasileira com o uso de veículos elétricos, e o lançamento do primeiro drone da América Latina, e possivelmente, do mundo, a realizar o transporte de cargas B2B.
Nesta entrevista, o empresário explica como o desejo de inovar fez com que uma tradicional empresa de logística se tornasse um grande e pioneiro polo de inovação sustentável
Qual o compromisso da Transcota hoje?
Ao direcionar o foco para os princípios da logística sustentável, assumimos o compromisso de trabalhar de forma inovadora para garantir o equilíbrio das operações com a preservação do meio ambiente.
Nossa meta principal é conseguir neutralizar 100% do CO2 gerado pelas operações da empresa. Para que isso seja feito, estamos desenvolvendo cálculos que ajudem a mensurar a quantidade de gases poluentes que produzimos anualmente, além de pesquisas sobre diferentes formas de minimizar ou mesmo anular este impacto no meio ambiente.
E como isso tem sido feito?
Um dos frutos desse intenso trabalho voltado para a inovação sustentável, é a van BYD-T3, 100% elétrica, que foi empregada em nossos serviços de transporte de cargas e realizou nos últimos meses, as primeiras entregas totalmente verdes da história da mineração nacional. Além disso, implementamos na unidade de Parauapebas (PA), um projeto piloto 100% autossustentável em energia, com a neutralização de dióxido de carbono, aproveitamento de água da chuva e o uso de biodigestores no tratamento de seus esgotos.
Essa unidade hoje integra o conjunto de empresas privadas participantes do Programa de Logística Verde Brasil (PLVB), que procura consolidar e aplicar conhecimentos para reduzir a intensidade das emissões de gases de efeito estufa e poluentes atmosféricos, e assim elevar o potencial de eficiência da logística e do transporte de cargas no Brasil.
Nossos planos também incluem a criação de uma reserva ambiental, que receberá a plantação de um número de árvores suficiente o bastante para ajudar na neutralização do restante do carbono que emitimos na natureza.
Como garantir o desenvolvimento sustentável de uma organização?
Uma alternativa interessante pode ser a economia Donut, desenvolvida pela economista inglesa Kate Raworth. Esse modelo consiste em um sistema no qual as necessidades dos cidadãos devem ser satisfeitas sem provocar o esgotamento dos recursos naturais. A essência é um alicerce social de bem-estar abaixo do qual ninguém deve cair, e um teto ecológico de pressão planetária que não deve ser transposto.
O que mudou nesta geração de empresários em comparação às gerações anteriores?
Nos últimos anos, os desastres naturais se tornaram mais frequentes e violentos, e as temperaturas globais estão cada vez mais altas. Estas situações têm influenciado o aumento da consciência ambiental. Essa mudança de visão está transformando completamente o mercado mundial, tanto os empresários e empreendedores, como também os próprios consumidores. Para atender aos anseios deste novo público, diversas empresas vêm adotando uma postura mais correta e transparente, em prol da responsabilidade ambiental.
Como manter uma organização sustentável?
O desenvolvimento de qualquer empresa deve ter como pilar a redução do impacto provocado no meio ambiente, bem como a manutenção dos recursos naturais utilizados em seu dia a dia. Algumas medidas simples já podem ajudar a preservar a natureza e reduzir o desperdício de recursos naturais dentro de uma empresa. Como, por exemplo, investir em treinamentos sobre práticas sustentáveis; utilizar sistemas de tratamento e reaproveitamento da água; reutilizar e reciclar o lixo sólido e sobras de matéria-prima, e investir no uso de sacos biodegradáveis.
É possível obter lucro com a sustentabilidade?
De acordo com o The Global Risks Report 2020, em 2018, US$ 165 bilhões foram perdidos em desastres naturais. Metade do PIB global, o equivalente a US$ 44 trilhões, está exposta a riscos associados à degradação ambiental. Neste sentido, a sustentabilidade é ideal não só para economizar recursos, como também para reduzir riscos de prejuízos financeiros oriundos da mudança climática.
Também é importante destacar que, no mercado financeiro, investidores privilegiam empresas sustentáveis e rentáveis para investir os seus recursos. Esse tipo de investimento socialmente responsável considera que empresas sustentáveis geram valor para o acionista a longo prazo e se apresentam mais preparadas para enfrentar os riscos sociais, econômicos e ambientais.
Fonte: SEGS